sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A culinária como fenômeno social: sabor, afeto e memória

Artigo publicado no Jornal dos amigos por Por Renato Mafra, cientista social e mestrando em Antropologia pala Universidade Federal de Santa Catarina trata de temática oprtuna para um bom bata papo *. Confira:

A relação entre as Ciências Sociais e a Gastronomia são mais estreitas do que podemos imaginar. A título de exemplo citarei apenas dois cientistas sociais reconhecidos mundialmente para demonstrar a importância da culinária neste terreno acadêmico. O primeiro é o antropólogo francês Claude Levi-Strauss que em seu livro Mitologias observou que os alimentos não eram apenas bons para se comer, mas também eram bons para se pensar, numa alusão a relação existente entre os alimentos e os mitos em diversas sociedades estudadas por este antropólogo. O outro é o sociólogo brasileiro Gilberto Freire, pioneiro nesta área no Brasil, que inclusive dedicou uma obra inteira ao estudo da influência do açúcar na cultura nordestina.
Deste modo introduzimos a idéia do fato culinário como fenômeno social para relacioná-lo com três interessantes categorias: o sabor, o afeto e a memória.
Um excelente livro lançado em 1998 pela Melhoramentos, "A cozinha dos imigrantes: memórias e receitas" de Marina Heck e Rosa Belluzzo aborda com significativa maestria a relação que estamos tentando demonstrar entre o sabor, o afeto e a memória quer seja na memória coletiva de uma determinada comunidade ou na memória individual dentro da história de vida de cada ser humano e suas micro relações.
É interessante perceber como os nossos registros referentes aos sabores, odores e texturas dos alimentos estão constantemente e fortemente associados às refeições preparadas ou degustadas no convívio daqueles que nos são caros e com os quais mantemos ou mantivemos relações sociais de afetividade, quer seja a polenta da nonna ou a macarronada da mamma ou ainda o doce preparado por uma tia distante. Particularmente lembro-me inclusive com saudades e carinho dos pães caseiros e da massa de macarrão preparados pela minha avó materna nos períodos de férias de verão que passávamos juntos na praia de Canasvieiras no litoral de Santa Catarina. Certamente, você que agora lê estas linhas, deve estar lembrando-se de algum sabor ou receita ligado a uma determinada relação que você teve no passado e que mantém ou não até os dias atuais. Por mais que os sabores dos restaurantes nos despertem o paladar, parece-me que os registros gustativos mais marcantes em nossa história são aqueles que também marcam um determinado tipo de relação social e afetiva.
Para encerrar este artigo gostaria de apresentar a fala de Natale, uma descendente de italianos, que foi publicada no livro acima citado e que sintetiza um pouco das idéias aqui apresentadas: "se falo da cozinha com tanta saudade é porque foi o centro das relações familiares. Minha avó Isolina era o almirante que manobrava o fogão como um navio de longo curso".
Quem não tem em sua memória afetiva e gustativa uma experiência relacionada com essas questões???
Fonte:http://www.jornaldosamigos.com.br/gastronomia2.htm foto:flickr.com/photos/michellecunha/2437134339/

5 comentários:

  1. Inesquecível é o sabor do café preto, para acompanhar uma fatia de pão quentinho, com manteiga derretida. Simples assim. Lembrança da minha infância (lá se vão mais de 30 anos...). Eu morava próximo da casa da minha avó materna, e à tardinha, depois de tomar banho, ia pra lá pra assistir TV e ser paparicado pela Vovó. Ela sempre me dava um café preto, passado na hora, e uma fatia de pão com manteiga. A simplicidade daquele lanche refletia a simplicidade do amor que ela tinha por nós. Mas era mais que um lanche, era um elo, um motivo a mais pra que a gente sempre quisesse voltar, na tarde seguinte...

    ResponderExcluir
  2. Ainda ontem eu estava comentando com uma prima:aprendi a ser " fresca " com a tia Vinoca, irmã da minha mãe...tia Vinoca tinha apenas um filho homem e, acho q me adotou...lembro q ela sempre me chamava para ajudá-la a fazer brevidades( gente q delícia, não consigo mais encontrar),biscoitos casadinhos,cristalizar frutas, etc...quando terminávamos, ela colocava a mesa, não faltava nada, xícaras p/ o café ou chá, copos p/ o suco, pratinhos, garfinhos e colheres, tudo em perfeita ordem...aí chegava a melhor parte, saborear aquelas delícias, sempre recheadas com muita história contada. Esses sabores, cheiros, sentimentos, foram crescendo comigo e alegrando a minha vida e, como aprendi...como é importante valorizar pequenas coisas e mostrar para a criança pequenos detalhes...sds

    ResponderExcluir
  3. A monografia que fiz para a conclusão da minha especialização foi um resgate de memórias alimentares de descendentes de alemães numa cidade de SC colonizada por alemães, de onde sou natural. toda a pesquisa de campo foi um deleite! relembrar foi ter uma mescla de sensações e sentimentos de infância, muitos que nem lembrava mais!
    como sempre digo o comer vai muito mais além do que a nutrição do corpo, é uma mistura prazerosa de sabores, sentimentos, lembraças, tabus, crenças transmitidas através das gerações...vc não alimenta apenas o corpo, mas também o espírito!!
    parabéns pelo seu blog!

    ResponderExcluir
  4. Realmente lendo o seu artigo me remeti ao passado e lembrei dos biscoitos de goma, e das pamonhas de milho que minha avó fazia nunca mas comi algo igual
    parabens belo texto

    ResponderExcluir
  5. Google divide your blog in option if you are chooseing option 1,2..etc see more....
    option.1
    option.2
    option.3
    option.3
    option.4

    ResponderExcluir